Londrina, 10 de dezembro de 1987. A cidade norte-paranaense saía nas manchetes dos principais jornais do País por conta de um crime inusitado, que se tornaria o assalto com o maior número de reféns na história criminal do Brasil. O curioso é que a população ficou do lado dos ladrões.
No aniversário de 53 anos do município, sete criminosos armados invadiram a Agência Banestado, a maior agência bancária da cidade na época, e fizeram mais de 300 reféns por aproximadamente sete horas. O grupo demandou 30 milhões de cruzados como resgate, que valia 10 milhões de dólares na crise econômica que o País enfrentava. Com o valor arrecadado e um ônibus com vidros protegidos, o grupo fugiu levando 14 reféns sob o olhar e aplausos das 5 mil pessoas em volta do banco, que acreditavam que a ação era contra o governo. Dias depois, 25 milhões de cruzados foram recuperados e seis dos ladrões foram presos. O sétimo integrante nunca foi encontrado, e a história continua marcada no imaginário dos londrinenses 37 anos depois.
Assalto à Brasileira
A repercussão na época chegou a nível nacional. Já hoje em dia, o fato se mantém relevante a ponto de Murilo Benício interpretar Paulo Ubiratan, jornalista londrinense que atuou como mediador entre os policiais e assaltantes e se ofereceu para ser um dos reféns levados na tentativa de fuga. Em “Assalto à Brasileira”, a esposa de Ubiratan está grávida de Bruno, hoje advogado e pai de Pedro Paulo na vida real. Ao Paraná Norte, Bruno contou que cresceu escutando histórias sobre o dia do crime do próprio herói do caso, que era parado na rua para que comentasse a história.
Antes de falecer em 2010, Paulo expressou por diversas vezes o desejo de que o ocorrido se tornasse um longa-metragem, em um “sonho muito distante”, disse Bruno. Em 2021, os primeiros passos desta aspiração se tornaram realidade com o contato de Marcelo Braga, fundador da Santa Rita Filmes e produtor de obras como “O Maníaco do Parque” e a trilogia de “A Menina que Matou os Pais”.
Na época, Bruno era presidente do Instituto de Desenvolvimento de Londrina (Codel) e recebeu Braga na cidade. O filho de Paulo Ubiratan insistiu que o filme fosse gravado em Londrina, mesmo com o alto custo da produção. Com o sucesso da ideia, Bruno e sua família puderam acompanhar o primeiro e último dia de filmagens no município, no dia 30 de novembro e 12 de dezembro deste ano. “Foi muito emocionante para toda a minha família, e eu fico muito feliz, porque meu filho de seis anos não conheceu o vô dele, e agora vai poder assistir um pedaço da história do vô dele na tela dos cinemas”, explicou Bruno.
Produção nacional
Com direção de José Eduardo Belmonte e produção da Santa Rita Filmes, Galeria Distribuidora e Grupo Telefilms, as gravações se iniciaram no dia 16 de novembro em São Paulo antes de virem à Londrina. Ao Paraná Norte, o produtor Marcelo Braga contou que a pré-produção do filme começou em junho deste ano, com um “trabalho muito grande de pesquisas, planejamento e escolha de elenco”.
Um estúdio de 500 m² foi construído para as cenas no interior da Agência Banestado. Também foram gravadas cenas de interiores da Folha de Londrina, jornal em que Paulo trabalhava na época do assalto. Em São Paulo, as filmagens levaram duas semanas.
Já em Londrina, por mais duas semanas foram feitas todas as cenas da entrada do banco. “Revitalizamos a fachada e lobby principal do térreo do prédio na Avenida Paraná, que estava fechado desde 2016, quando o Itaú encerrou atividades naquela unidade. Também fizemos todas as cenas de localização da cidade: ruas, praças, Lago Igapó e toda a fuga dos assaltantes”, explicou Braga.
Paulo Ubiratan na redação da Folha de Londrina. Foto: Arquivo pessoal.
Plateia ao vivo
Assim como no dia 10 de dezembro de 1987, o Calçadão de Londrina foi tomado por londrinenses, desta vez ávidos em saber mais sobre as gravações, capturar um vislumbre dos atores principais e registrar toda a produção visível aos olhos.
Em sua pesquisa, Braga considerou “incrível” o fato do crime trazer lembranças positivas aos munícipes. “Não existe um repúdio da sociedade, muito pelo contrário, a sociedade londrinense gosta de relembrar o caso; os assaltantes foram considerados Robin Hood neste fato histórico”, contou.
Da esquerda para direita, José Eduardo Belmonte, diretor de “Assalto à Brasileira”, e o produtor Marcelo Braga. Foto: Reprodução/Instagram Santa Rita Filmes.
Muitos dos espectadores também estiveram presentes no dia do assalto, quase 40 anos atrás, e puderam reviver a ação com as filmagens. “Movimentamos o Calçadão do centro por duas ou mais semanas e sentimos uma alegria muito grande da sociedade. Estamos muito felizes. Fazer cinema é trabalhar de forma coletiva e isso está registrado nos bastidores e ficará na lembrança do londrinense. Tenho certeza que este filme deixará saudades”, afirmou o produtor ao Paraná Norte.
Com o fim das gravações, começa a fase de montagem e finalização do material. Braga revelou que o filme estará pronto para estreia no segundo semestre de 2025, e deseja que “todos os londrinenses gostem e que seja um sucesso no Brasil e exterior”.
Gravações de “Assalto à Brasileira” no Calçadão de Londrina. Fotos: Ana Júlia Torres.
Por Heloísa Gonçalves
Foto: Ana Júlia Torres
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