Único prefeito eleito e reeleito em primeiro turno na história de Londrina desde que a cidade passou a ter eleições em dois turnos, Marcelo Belinati (PP) chega ao final do segundo mandato “com a sensação de dever cumprido”, como diz em entrevista concedida ao Paraná Norte na quarta-feira (6).
Ele afirma que a cidade mudou e que deixa como principal legado a Tiago Amaral (PSD), que derrotou a sua candidata à sucessão, Maria Tereza (PP), em tensa disputa eleitoral, a recuperação da autoestima dos londrinenses.
“Acho que conseguimos resgatar o sentimento de orgulho do cidadão londrinense, porque quando entrei na Prefeitura [em 2017] eu percebia que o londrinense havia perdido a sensação de pertencimento”.
Analistas políticos avaliaram após o resultado da eleição municipal de 27 de outubro que embora Belinati não tenha elegido sua candidata não deixa de sair fortalecido politicamente, já que a levou ao segundo turno contra um candidato apoiado pelo governador Ratinho Jr. (PSD) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma ampla coligação partidária.
Próprio de seu estilo, o prefeito se esquiva quando questionado se o resultado poderia ter sido diferente se tivesse escolhido outro candidato ou se a campanha de Maria Tereza mostrasse mais obras da Prefeitura ao longo dos últimos oito anos – críticas feitas por correligionários do próprio Belinati. Prefere apontar que o número somado de abstenções e de votos brancos e nulos (144.521) superou a votação dos dois candidatos. “Cabe uma reflexão a todos nós”, diz.
Afirma que a eleição é página virada, deseja sucesso a Tiago e avalia que a grande aliança que o prefeito eleito fez tem seus aspectos positivos, mas também negativos.
Na entrevista, o prefeito nega ter feito uma gestão “isolacionista” em relação aos municípios da região, conforme apontou a Associação dos Municípios do Paranapanema (Amepar), num momento em que seu sucessor prega uma administração integrada com Cambé, Ibiporã, Rolândia, Arapongas e Apucarana, as cidades que formam com Londrina o grupo que o prefeito eleito denomina de G6.
Belinati também reforça a defesa em torno de uma candidatura do interior ao governo do Estado em 2026 e credita a “fake news” especulações sobre uma possível indicação dele para a Itaipu Binacional, cujo diretor-presidente do lado brasileiro é o deputado federal licenciado Enio Verri (PT). Leia a entrevista abaixo:
Como o senhor sai da Prefeitura após dois mandatos seguidos?
Saio com sensação de dever cumprido. Londrina hoje é uma outra cidade, a cidade se transformou para melhor, se você pegar uma foto do que era antes e o que é agora, em qualquer área a cidade avançou e evoluiu muito. Londrina tem a Prefeitura mais transparente do Brasil pelo sétimo ano seguido, livre de corrupção, temos as contas equilibradas – quando entrei na Prefeitura estavam em uma situação dramática as finanças do município. Temos obras de melhoria por toda a cidade, dos bairros mais simples e humildes até as regiões centrais. Temos indústrias vindo, e o mais importante, acho que conseguimos resgatar o sentimento de orgulho do cidadão londrinense, porque quando entrei na Prefeitura [em 2017] eu percebia que o londrinense havia perdido a sensação de pertencimento. Acho até que por muitos anos de problemas que a cidade vivenciou – e não estou criticando os prefeitos anteriores, é apenas uma constatação. Isso diminuiu muito a autoestima do cidadão londrinense, e a autoestima do londrinense se recuperou.
Como o senhor avalia o seu desempenho na eleição? Vitorioso por ter levado a sua candidata ao segundo turno ou derrotado por não ter elegido a sua candidata à sucessão?
Acho que foi uma vitória da Maria Tereza e da cidade de Londrina, porque a Maria não é política, é uma técnica, muito competente, aliás, fez uma revolução na educação. Era pouco conhecida da grande maioria das pessoas, mas ela conseguiu se apresentar durante o processo eleitoral, creio que faltou um pouco mais de tempo para ela se apresentar com mais profundidade. Mostrou as propostas que ela entendia adequada para a cidade. Foi uma grande vitória, fez 111 mil votos, nunca uma mulher tinha ido ao segundo turno na história de Londrina e isso é histórico para a cidade, até como quebra de paradigma, porque por incrível que possa parecer, e de fato ainda existe um certo preconceito das pessoas nesse sentido. Fico feliz de ela ter feito 111 mil votos.
O líder do PP na Câmara Municipal disse em entrevista ao Paraná Norte que faltou a campanha da Maria Tereza mostrar mais o que o senhor fez. O senhor acha que o eleitor londrinense não conseguiu também ter essa percepção a ponto de não escolher a sua candidata?
Agora que passou a eleição é difícil também fazer uma análise nesse sentido. Não sei dizer… O que me chocou, para ser franco, é o número de pessoas que deixaram de ir votar [foram 123.662 abstenções no segundo turno, índice de 30,94%]. E esse número, somado a brancos [8.058] e nulos [12.801], foi maior do que os votos do candidato que se elegeu [144.521 votos contra 143.745 recebidos por Tiago Amaral] e do que a Maria [111.464]. Isso cabe uma reflexão para todos nós, inclusive para mim e toda a classe política para tentar entender. Que é uma insatisfação das pessoas é óbvio, a gente tem que entender o porquê dessa dimensão de insatisfação.
Talvez pelos candidatos?
Não sei dizer. Claro que foi uma coisa que aconteceu em todo o Brasil, mas aqui foi maior a ponto de ter superado os votos do Tiago. Cabe uma reflexão profunda de todos nós em relação a isso. Não sei se esse clima de polarização, clima muito pesado no Brasil de agressões, enfim, que prejudica até as famílias. É briga entre famílias, perda de amizade por causa de polarização, não sei se isso tenha refletido, vamos avaliar com calma.
Se fosse um outro candidato que não a Maria Tereza teria um outro desempenho?
Não sei lhe dizer. O que eu sei dizer é que nós escolhemos a Maria como candidata a prefeita por critérios absolutamente técnicos, eu tinha convicção de que ela seria uma grande prefeita. É professora, advogada, gestora pública, administradora, fez uma revolução na educação, é honesta. Não é política, mas é um perfil técnico que seria uma grande gestora para a cidade. Agora, a voz do povo é soberana, hoje temos um prefeito eleito e temos que estar todos juntos com ele no sentido de fazer a cidade progredir, avançar, porque o sucesso do trabalho do prefeito é o sucesso para a população. Se o prefeito está trabalhando bem, quem ganha com isso é a população. Acabou a eleição, página virada, vamos olhar para frente e torcer para que o Tiago vá bem como prefeito, e ajudar naquilo que for possível.
O prefeito eleito disse que Londrina não pode mais ser uma ilha, dando a entender que não havia uma articulação da gestão atual com os municípios da região, que utilizam serviços públicos aqui. E quando o senhor denunciou no dia da eleição que haveria uma “invasão” na cidade com servidores de prefeituras vizinhas para fazer boca de urna em favor do Tiago Amaral houve uma reação contundente da Amepar (Associação dos Municípios do Paranapanema). Na nota oficial, o presidente da associação disse inclusive que o senhor sempre fez política sozinho. O senhor não articulou o suficiente com a região ou entende que não houve um movimento de lá no mesmo sentido?
Não, acho que todos trabalharam de forma integrada. Veja, aqui em Londrina temos cidades conurbadas, como Cambé e Ibiporã, somos a mesma cidade. Tem muita gente de Cambé e Ibiporã que trabalha em Londrina, tem muita gente daqui que trabalha em Cambé e Ibiporã. Londrina é uma cidade polo e hoje vive o pleno emprego. Para você ter uma ideia, está difícil contratar pessoas. Tem um mercado que está sendo construído na Gleba Palhano e o proprietário me disse que não vai conseguir inaugurar agora porque não vai conseguir contratar os 400 funcionários.
Então está faltando mão de obra?
Está sobrando emprego. Na construção civil está vindo gente do Nordeste para trabalhar aqui. As empresas estão trazendo funcionários de outras regiões do Brasil porque já esgotou a mão de obra em Londrina e na região. No comércio não estão conseguindo contratar, e na indústria, a mesma coisa. Londrina está vivendo um momento muito especial, e o que eu quero dizer com isso? Quando Londrina vai bem, é bom para toda a região, e quando a região vai bem, é bom para Londrina. Nós temos associações [de municípios] que trabalham nesse sentido e nós sempre estivemos juntos em todas as lutas que eles demandaram por nossa cidade e região.
O senhor disse em entrevista ao Paraná Norte em janeiro que passou da hora de o interior do Estado articular uma candidatura ao governo estadual, nem que não fosse a sua própria. Chegando ao final do ano, como o senhor está pensando 2026, que está logo aí?
Para ser muito franco, eu estou com muito foco para finalizar o mandato, deixar tudo certinho para o prefeito que vai assumir a cidade, não estou pensando politicamente. Em 1º de janeiro eu volto para minhas atividades como médico, e aí na sequência vou pensar nisso. Mas continuo dizendo, creio que é o momento do interior se articular para ter uma candidatura ao governo do Estado, não tenho dúvida disso. Nada contra a capital, mas faz 40 anos que o interior do Estado não tem um governador do interior.
E como o senhor entende que tem que ser construída essa candidatura, que em princípio não passa pelo grupo político do Ratinho Jr. (PSD), já que o potencial candidato dele à sucessão, como se fala na Assembleia Legislativa, seria o deputado Alexandre Curi (PSD), futuro presidente da Casa?
É complexo isso, porque veja: é um conceito que eu estou colocando, mas isso passa por interesses políticos, partidários, cada um tem a sua equipe. O governador Ratinho Jr. tem a equipe dele e dentro dela vários nomes que se dispõem a ser candidatos a governador. Tem o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que já manifestou interesse em ser candidato, enfim, tem várias forças políticas e é difícil se abrir mão disso. Eu não vejo perspectiva disso [candidatura do interior] acontecer, mas nada impede que se construa uma candidatura – não vou nem falar de terceira ou quarta via –, mas dando a possibilidade de uma visão de você implementar ou ampliar políticas públicas fortalecendo cada vez mais o interior do Paraná. Hoje Curitiba não tem mais para onde crescer e se expandir. A ideia é potencializar todo o crescimento e desenvolvimento econômico possa ser amplificado a todas as regiões do interior.
O senhor como prefeito saído de dois mandatos consecutivos no segundo maior colégio eleitoral se considera um candidato em potencial?
Sim, mas é aquilo que eu falei, não necessariamente eu, temos grandes nomes expoentes da política paranaense por todo o interior do Estado.
Já saíram especulações de que o senhor seria indicado para um cargo na Itaipu Binacional.
Ahhh, isso é fake news.
E como está a relação com o governador…
Me dou muito bem com o governador.
Depois de ataques mútuos na campanha entre a sua coligação e a do prefeito eleito, que é a mesma do Ratinho Jr.?
Não o governador, né?
Mas o senhor criticou durante a campanha os políticos de Curitiba que vinham para cá…
Mas vinham, tinha até congestionamento de avião, e é verdade isso, não é mentira. E não é demérito, é direito deles virem para cá pedir voto para o candidato deles. Mas eu não me referi ao governador, me referi a toda classe política de Curitiba. É direito deles, mas eu só entendo o seguinte: quem conhece bem a realidade de uma cidade é exatamente quem vivencia a cidade. Claro que houve uma conjunção de todos os políticos, todos, todos, de estarem apoiando o candidato que se elegeu. É legítimo isso, vejo pontos positivos, mas também negativos.
E quais são os negativos?
Ah, não vou polemizar.
Por Diego Prazeres
Fotos: Ncom
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