Basta uma rápida pesquisa na internet para entender o tamanho do problema que a cidade enfrenta a cada temporada de chuvas mais intensas, principalmente na primavera e no verão, quando elas chegam em maior volume e, o que é pior, acompanhadas de ventos fortes. E esses temporais têm se tornado cada vez mais frequentes. Só no mês de setembro, pelo menos dois de maior intensidade atingiram Londrina.
Na tarde do dia 20, uma sexta-feira, o volume de chuva nem foi tão expressivo, mas as rajadas de vento passaram dos 75 km/h e árvores de grande porte acabaram tombando. Uma delas foi ao chão na rua Senador Souza Naves, próximo à Prefeitura, e atingiu dois veículos. Ninguém ficou ferido, mas o carro de um motorista de aplicativo, que tinha deixado um passageiro no local poucos minutos antes e chegou a ficar preso dentro do veículo, foi completamente destruído. Em outras regiões da cidade, cenário bem parecido, árvores caídas, postes de energia derrubados e mais destruição, como na avenida Guilherme de Almeida, na zona sul, e no Jardim Shangri-lá, na zona oeste.
A Secretaria Municipal do Ambiente (Sema), responsável pela erradicação e poda de árvores, afirma que o tempo de espera para o serviço já foi muito maior. A situação começou a mudar, de acordo com a Sema, em 2019, quando uma terceirizada foi contratada pela Prefeitura para fazer o trabalho, e aos poucos, reduziu a fila, que no fim de 2017, segundo a própria pasta, chegou a ter mais de 7 mil árvores esperando pelo corte ou poda. A empresa, além de executar o serviço, é responsável pela destinação dos galhos e pedaços de troncos.
Déficit
O secretário municipal do Ambiente, André Chen, admite que não há número suficientes de funcionários para atender a demanda. “A Prefeitura tem um déficit de funcionários e isso atinge a equipe da Sema também. O tempo de espera para vistoria varia conforme a quantidade de pedidos que recebemos naquela semana. Mas, não tem demorado tanto assim. Não chega a um mês e muitas vezes ocorre na própria semana” afirma Chen.
Ele explica que o serviço pode ser feito pela Sema ou pelo próprio cidadão, desde que esteja autorizado pela pasta. O pedido de vistoria da árvore pode ser feito na sede da Secretaria, no Parque Arthur Thomas, ou pelo Sistema Eletrônico de Informações da Prefeitura (sei.londrina.pr.gov.br), que, além de um cadastro prévio, exige do cidadão um longo passo a passo para finalizar o processo.
Corte em 30 dias
Com a avaliação da árvore feita pela equipe da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema), o secretário André Chen diz que o tempo de espera para conseguir a erradicação ou poda não passa de um mês. “Antes de ter essa terceirizada, realmente havia uma fila que às vezes demorava alguns anos para cortar uma árvore. Atualmente, demoramos, no máximo, de 15 a 30 dias, para fazer a erradicação. Mas, quando surge uma demanda emergencial, a gente pede prioridade à empresa. Ou seja, temos uma lista de prioridades. Uma árvore que já demonstra que está podre, que pode oferecer risco para as pessoas, é colocada numa urgência maior do que uma árvore que está quebrando a calçada, por exemplo”.
Multa de até R$ 1.800
Entre janeiro e outubro do ano passado, a Secretaria Municipal do Ambiente (Sema) emitiu 43 autos de infração por erradicação sem autorização e 209 por conta da chamada poda drástica. No caso do corte não autorizado, o valor da multa por árvore varia de R$ 895,60 a R$ 1.791,20.
Temporal derrubou árvores saudáveis, diz secretário
O secretário do Ambiente, André Chen, diz que nem sempre as árvores que tombam durante os temporais e vendavais estão condenadas e que para dar conta do trabalho nesses dias é preciso montar uma força-tarefa com outros órgãos para conseguir atender mais pontos. “Naquele temporal da noite de sexta-feira (20 de setembro), por exemplo, a gente viu árvores que caíram que estavam saudáveis, mas com aquele vento de 70 km/hora algumas árvores acabam se curvando pelo excesso de vento. Naquele dia, a gente tinha duas equipes da Sema e uma equipe da terceirizada. Além disso, também temos o apoio da CMTU e dos Bombeiros nos dias com mais ocorrências. Já nos casos em que a árvore está caída sobre a rede elétrica, as equipes da Copel fazem o trabalho de retirada”.
Vereador critica serviço
Para o vereador Santão (PL), que montou dentro do gabinete na Câmara uma espécie de serviço paralelo para receber pedidos de poda e corte de árvores, o trabalho da Secretaria do Ambiente (Sema) ainda está longe do ideal, apesar da pasta dizer que não há mais filas. “Se o serviço não estivesse ruim, nós não teríamos essa fila de espera tão grande em que as pessoas reclamam de estarem aguardando mais de dois anos para poder fazer um corte de uma árvore. A população, em vez de protocolar na Secretaria, entra em contato comigo, vou no local verificar como é que está ou peço uma análise técnica da Sema”.
O vereador, que durante o temporal de 20 de setembro estava próximo à Prefeitura e ajudou a retirar o motorista de aplicativo de dentro do carro atingido pela enorme sibipiruna, conta que, há poucos dias, encaminhou um pedido de informações à Sema sobre o serviço. “Solicitei ao Município que traga informações a respeito do que ele está fazendo”.
Mais de 40 mil imóveis sem energia
Depois do vendaval do dia 20, quase uma semana depois, na noite do dia 26, uma quinta-feira em que Londrina registrou a temperatura mais alta do ano (38,5º), outro temporal acompanhado de ventos fortes, mais uma vez, causou diversos estragos. As árvores caídas, tanto na área urbana quanto na zona rural, causaram a interrupção do fornecimento de energia e o bloqueio de vias, entre outros problemas.
Por conta do temporal e da queda de árvores, diversos bairros de quase todas as regiões de Londrina, como os jardins Califórnia e o Eucaliptos, e áreas rurais em Lerroville e na Usina Três Bocas, entre outros, ficaram sem energia. Segundo a Copel, cerca de 40 mil imóveis tiveram o fornecimento suspenso com o temporal. Além dos moradores, prejuízo também para os comerciantes que não puderam trabalhar e que, em alguns casos, perderam produtos perecíveis. Em outras cidades da região, praticamente o mesmo cenário, com muitas árvores caídas, postes derrubados e mais destruição.
Fiação subterrânea é solução cara
Mas o que fazer para evitar tantos transtornos se os “eventos climáticos extremos”, como são chamados pelos meteorologistas, estão se tornado cada vez mais frequentes e “poderosos”? Os especialistas na área afirmam que a substituição da fiação nos postes por uma rede subterrânea é uma opção para reduzir drasticamente os cortes no fornecimento. No entanto, essa seria uma mudança que necessitaria de altos investimentos e que, claro, enfrenta muita resistência das empresas de energia de todo o país.
Dados da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica mostram que os custos para se ter uma rede de distribuição subterrânea são, em média, oito vezes maiores que os de uma rede tradicional. Isso, de acordo com as empresas, encareceria a conta de luz. Na maior cidade do país, onde a cada temporal as quedas de árvores e da energia afetam milhões de pessoas, o assunto veio à tona no fim da semana passada, após mais um desses eventos extremos, quando cerca de 500 mil imóveis de São Paulo e região metropolitana foram afetados.
Por Marcos Garrido
Foto: Diego Prazeres
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