Candidato do PDT abre a série de entrevistas com os sete concorrentes à Prefeitura
O jornalista Homero Barbosa Neto, que completa 58 anos em setembro, quer voltar mais uma vez à Prefeitura de Londrina, de onde saiu em 2012 após ter o mandato cassado pela Câmara Municipal sob a acusação de ter contratado uma empresa de vigilância para sua emissora de rádio com recursos públicos.
Doze anos após o episódio, ele afirma ter sido inocentado nas 26 ações judiciais de que foi alvo no Ministério Público e que a interrupção de seu mandato ocorreu devido a uma “armação política”. Dizendo representar “uma camada popular que não tem hoje uma representação no espectro político de Londrina”, o candidato do PDT disputa sua quarta eleição municipal.
A revitalização do centro da cidade e a instalação de uma zona portuária de exportação para acelerar o processo de industrialização de Londrina estão entre suas propostas. Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), o paulista de Santa Rita do Passa Quatro mora no município desde 1985. Além de prefeito, foi deputado federal e estadual e atua como comunicador na rádio de sua propriedade. Seu candidato a vice é o empresário Ildo Yukio Marubayashi (PDT).
Barbosa Neto abre a série de entrevistas que o Paraná Norte publicará com os sete concorrentes à Prefeitura em suas edições semanais. A sequência segue a ordem alfabética dos nomes das candidaturas registradas no TRE (Tribunal Regional Eleitoral): Barbosa Neto (PDT) nesta edição de 17/18 de agosto; Coronel Villa (PSDB) em 24/25 de agosto; Diego Garcia (Republicanos) em 31 de agosto/1º de setembro; Isabel Diniz (PT) em 7/8 de setembro; Professora Maria Tereza (PP) em 14/15 de setembro; Tercilio Turini (MDB) em 21/22 de setembro; e Tiago Amaral (PSD) em 28/29 de setembro. O primeiro turno da eleição será realizado em 6 de outubro.
Por que ser prefeito de Londrina de novo?
É porque eu já fui prefeito, tive o mandato interrompido por uma questão que já foi ganha na Justiça, na verdade foi uma armação política, e porque eu represento realmente uma camada popular que não tem hoje uma representação no espectro político de Londrina. Tenho uma trajetória de mais de 30 anos no PDT, fui deputado estadual, deputado federal, prefeito, tive as maiores votações, ganhei prêmio internacional com coleta seletiva de lixo, a imprensa nacional reconheceu Londrina como uma das melhores cidades do Brasil para se viver. Fui prefeito Amigo da Criança durante três anos pelo trabalho que nós desenvolvemos na educação, na inclusão, fui o prefeito empreendedor do Paraná, o prefeito finalista do Sebrae como o prefeito empreendedor do Brasil. Então, tem uma série de questões que nos dão a credibilidade para voltar à Prefeitura. Não sou candidato por vaidade, não sou candidato de mim mesmo, mas eu creio que nós podemos fazer novamente o que já fizemos por Londrina, sem aumentar IPTU, sem tirar o fundo da Caapsml, como foi colocado, tirando até o plano de saúde dos servidores, sem endividar a Prefeitura.
O senhor se considera um candidato de centro-esquerda?
Eu não me coloco como candidato que representa um segmento político-partidário na cidade. Acho que os partidos acabam a partir do momento em que você tem a disputa, e aí é uma disputa de propostas e de diferenças entre os candidatos que aí estão. Os partidos servem justamente para você disputar a eleição, diferente de alguns países como, por exemplo, os Estados Unidos, onde tem candidaturas avulsas. Essa polarização foi criada recentemente, então eu não sou candidato da polarização de esquerda ou de direita, eu sou candidato da população. A nossa coligação chama-se “Quem manda é o povo”, porque, na verdade, é o povo quem decide efetivamente. Eu não sou de esquerda, não me considero de direita, eu me considero olhar para frente. Eu sou contra os extremos. Acho que institucionalmente você tem que se relacionar com quem está no poder, tanto do governo do Estado quanto do governo federal, não importa quem seja.
O senhor mencionou que teve o seu mandato interrompido por conta de armação política, mas a gente lembra que houve várias ações do Ministério Público por indícios de irregularidades em áreas sensíveis e importantes na sua gestão como saúde (contratos com as Oscips) e educação (contratação de uniformes e livros didáticos, por exemplo). Como fazer o (a) londrinense acreditar que isso não vá acontecer de novo em um eventual novo mandato do senhor?
Primeiro porque não tem nenhuma condenação. Você falou de todas elas aí, não tem nada. Eu rompi com um monte de preconceitos que existiam. Por exemplo, na questão dos uniformes. Todos os uniformes foram entregues, não houve dolo ao erário público. Os uniformes na minha época eram de qualidade, foi a primeira vez que um prefeito ofereceu os uniformes com tênis, agasalho, mochila, calças, camisas, e tudo foi entregue no tempo hábil porque eu tinha pressa. A nossa merenda era a melhor do Paraná, hoje você está vendo o escândalo aí na merenda. Nós fazíamos quatro refeições por dia, merenda de qualidade. Eu tenho as fotos de como está hoje, a maçã cortada por um terço, tirando a parte podre, semana passada uma laranja foi dada para as crianças, a quantidade de proteína baixíssima. A gente viu aí bolacha água e sal um tempão, as crianças comiam macarrão sem sal, sem proteína, isso não aconteceu no meu mandato. Essa questão dos livros didáticos mesmo foi uma grande conquista até pelo preconceito da cidade. Livros didáticos com conteúdo anti-racismo. Isso foi feito. Mas existem identidades, ideologias que querem, infelizmente, atrapalhar até a questão do ensino, da pedagogia correta, rompendo mitos e também preconceitos. Eu governo para todos, eu acho que é normal esse enfrentamento. Não existe garantia de nenhum candidato. Eu tenho a garantia de ter sido investigado, responder a 26 ações do Ministério Público e fui inocentado em todas elas. Talvez as pessoas não se recordem que eu passei por tudo isso nesses últimos 12 anos e de vencer todas essas ações na Justiça. Qual foi a pessoa mais investigada do que eu aqui na cidade? Não fui preso, não fui afastado pela Justiça, não usei tornozeleira eletrônica e não fui condenado. A minha cassação foi política. Talvez as pessoas não saibam, mas foi uma armação. Foi justamente por conta da merenda, que eu rompi com um vereador que queria fornecer os gêneros para a elaboração da merenda escolar aqui em Londrina. Nós não aceitamos isso. Eu fui ao Gaeco, denunciei ele ao Ministério Público. Teve prisão no meu tempo por justamente esses escândalos. Mas se você analisar, eu fui contra a corrupção. Eu deixei dinheiro em caixa na Prefeitura, governei com 50 cargos comissionados, hoje são mais de 200 cargos. Eu cortei diretorias de Cohab, Sercomtel, CMTU, baixei salário de diretores. Eu governei praticamente com os servidores. Nós fizemos uma verdadeira revolução na cidade e isso é tranquilo para a gente discutir.
Seu sucessor (Alexandre Kireeff) dizia que pegou uma Prefeitura de terra arrasada.
Eu peguei terra arrasada. Eu assumi em maio de 2009. Foi o Padre Roque [então presidente da Câmara Municipal, prefeito-tampão de 2008 a 2009] que gastou todo o dinheiro. Acabou o dinheiro da arrecadação, que era principalmente voltada para o IPTU, e tive que fazer os cortes. Por isso que eu não dei cargo para os vereadores e por isso eles se insurgiram contra mim, tentando fazer essas ofertas com corrupção. Na verdade, corrupção existiu agora, a Operação ZR3 [deflagrada em 2018], que não foi na minha época. Teve vereador preso, teve gente que foi assassinada também envolvendo a Operação Password. Isso não teve no meu tempo. Houve um preconceito, uma pecha, tentando incutir a mim essas situações. Minhas contas todas foram aprovadas pela Câmara Municipal, pelo Tribunal de Contas. Esse preconceito existe, porque quem conhece a política de Londrina nos últimos 50 anos, sou o único que governou a cidade que não sou do PT, que não sou rico e que não sou da família Belinati.
Uma pergunta do Observatório de Gestão Pública de Londrina: como o candidato pretende manter e ampliar iniciativas de garantia de transparência e gestão democrática dos recursos públicos e melhorar a gestão de informação dos dados já disponíveis com indicadores acessíveis e práticos à população e cumprir os princípios constitucionais contidos na Lei de Acesso à Informação?
Existe a Câmara Municipal para fiscalizar. Existem, por exemplo, os observatórios, que parece que não funcionaram. Como, por exemplo, o Observatório de Gestão Pública. Muitos deles foram manietados com cargos sendo oferecidos e esses que eram membros do Observatório estão lá ocupando cargos de secretaria, cargos em comissão, cargos que eu não dei. E não vou dar, não acho isso justo. A Lei de Transparência tem que ser respeitada. O controle social tem que ser feito pela própria sociedade, pela Câmara Municipal, pelos conselhos, uma administração transparente como era a minha administração. Não “transparente” como foi feito nessa administração. Você procura hoje lá quais são os cargos comissionados e muitos deles não aparecem nesse site que a Prefeitura diz que ganhou o prêmio nacional. Isso aparece apenas na entrevista que o prefeito dá. Eu não dei dinheiro para a imprensa, não fiz patrocínio de Sercomtel, não dei cargo para vereador, rompi com aquelas práticas antigas que o PT fazia e que o belinatismo fez. Eu acho que a primeira coisa que você deve observar é o comportamento do prefeito. Manietar os conselhos, os clubes de serviço, as entidades todas, essa é a prática do belinatismo, que dá cargo para todo mundo, que aceita conluio com entidades.
A participação do PIB industrial na economia da cidade não passa de 16%, enquanto nos municípios aqui da região, por exemplo, esse índice é mais do que o dobro. De que forma o senhor pretende acelerar esse processo de industrialização na cidade?
Eu tinha o projeto Arco Norte, que poderia mudar o perfil econômico da nossa cidade. Um projeto maravilhoso que não era meu, o Ministério da Aeronáutica identificou uma área que poderia ser um aeroporto de cargas equidistante 15km de Apucarana, Arapongas, Rolândia, Cambé e Londrina. Nós levamos esse projeto para atrás da Mata dos Godói, declarei área de utilidade pública, aquilo poderia mudar o perfil econômico da cidade, criando um aeroporto de cargas em que não iria fechar sem ter problema com o ILS. Depois o prefeito Kireeff cancelou essa área de utilidade pública, cedeu à especulação imobiliária, mas isso poderia ter mudado o perfil da nossa cidade. Isso faz 14 anos. Mas agora o que é moderno são as zonas portuárias de exportação, as ZPEs. O Paraná não tem nenhuma, só tem em Santa Catarina, nós vamos aproveitar isso. Existe a rodovia transoceânica que vai passar por Assis, que sai do Pacífico e vai para o Atlântico. Nós vamos aproveitar isso, como o gasoduto também, que era uma outra carona que a gente poderia pegar e aproveitar também com a eficiência do fornecimento de energia sustentável. Mas essas ZPEs facilitam o acesso à exportação, aproveitando que agora o ILS está vindo por meio da concessionária CCR e do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo). A ZPE zera o imposto, por exemplo, de PIS, Pasep, Cofins, deixa de pagar taxa de marinha mercante, não tem que pagar nenhum imposto se 80% do que for enviado daqui for para exportação. Londrina está longe do porto, então nós temos que aproveitar essa outra possibilidade agora, também com o projeto Arco Leste, que pode viabilizar em uma área de 23 quilômetros, tirando o tráfego pesado, saindo da PR-445 até a BR-369. Eu que fiz o “Caminho da Índia” da outra vez e trouxe a Tata para cá. O PDT, que é o meu partido, tem um convênio de muitos anos e foi renovado agora com a China, os empresários chineses têm interesse em investir aqui, nós vamos para a China para atrair as empresas chinesas a se instalarem aqui, a China que hoje é o maior mercado mundial. Já tenho autorização para que Londrina seja sede de uma montadora, eu quase trouxe a Chery para cá da outra vez, o grupo Caoa foi mais rápido, mas agora nós vamos trazer uma empresa que gera 55 mil empregos no mundo inteiro, é uma multinacional, para que Londrina seja a base de distribuição da América Latina. É uma montadora de ônibus, tem uma espécie de jeep-troller, é a mesma fornecedora que fabrica motores para Rolls-Royce, Mercedes-Benz, BMW, e vai agora investir em motores 100% elétricos. Já conversei com o empresário, o mesmo que nos ajudou a trazer a Tata, para que Londrina seja a base para distribuição para toda a América Latina dessa montadora. Serão monoblocos para produzir esse ônibus que tem isenção de impostos, porque não há similar no Brasil, e começa com isso, para que depois possa gerar milhares de empregos e aumentar a arrecadação aqui para a nossa cidade.
O que será prioridade no seu primeiro dia de mandato caso o senhor seja eleito?
Olha, tudo é prioridade, é claro que aquela máxima “saúde, educação, segurança”, mas algo que precisa ser feito e eu vou pegar de empreita: vamos revitalizar o centro da cidade. Com uso da tecnologia, instalando a base da guarda municipal novamente no centro, como era no meu tempo, quando coloquei no bosque. Vamos trazer os consultórios de rua, que foi o primeiro que eu trouxe, depois junto com o Caps para ter um atendimento médico com enfermeiro, psiquiatra, como um redutor de danos, para fazer a abordagem aos moradores em situação de rua para que a gente possa encaminhá-los ao tratamento, se for o caso de dependência química ou psíquica, ou encaminhamento também a quem quer ir ao mercado de trabalho. Nós não vamos permitir que o centro seja cada vez mais depauperado como é hoje, com esses verdadeiros zumbis que se transformaram em uns walkind deads no centro da cidade, isso está muito grave. É um problema que existe em várias cidades do Brasil, mas faltou um prefeito pegar como empreita. O Calçadão, com a última reforma que eu fiz nas três etapas, tem que continuar, vamos fazer aquela limpeza como fazíamos sempre. Fizemos três viadutos sem aumentar IPTU, sem endividar a Prefeitura, enfim, dinamismo, vontade política, atitude e muito trabalho. Eu chegava na Prefeitura às 5 horas da manhã e às 6 horas estava nas escolas. Queremos voltar isso, trabalhar com muito afinco, Londrina é uma cidade maravilhosa, com potencial imenso e eu creio que ela pode voltar a ter dias melhores.
Barbosa Neto, candidato a prefeito pelo PDT
Por Diego Prazeres
Foto:Heloísa Gonçalves
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