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A memória de Arapongas abandonada

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MP investiga denúncia de que acervo do Museu de Arte e História está sendo destruído pela água e o mofo

Desativado há mais de dois anos, sem sede própria e com o acervo sendo destruído pela água e o mofo. Essa é a realidade do Museu de Arte e História de Arapongas (Mahra), um dos principais espaços culturais e de preservação da memória da cidade.

A situação motivou uma denúncia encaminhada por um membro do Conselho Municipal de Cultura à 1ª Promotoria de Justiça de Arapongas, responsável pela área do Patrimônio Público. À reportagem, o órgão informou que a acusação, recebida no dia 8 de maio, está na fase de coleta de documentos e realização de diligências.

Ainda de acordo com o MP, o Município foi notificado sobre a instauração do procedimento pela promotora Flávia Simon, no último dia 18 de julho, e teria até esta sexta-feira (16) para encaminhar uma resposta. A investigação teve o prazo prorrogado por mais 90 dias, em 31 de julho, e só deve ser finalizada em setembro. Procurada pelo Paraná Norte, a Prefeitura não quis se manifestar (veja box).

Na época do fechamento do acervo, o Poder Executivo anunciou que o prédio histórico do Paço Municipal abrigaria a nova sede da Secretaria de Educação e que o museu, criado em 2015, seria desativado por tempo indeterminado.

Em princípio, a maior parte do acervo foi levada para um prédio da Prefeitura, onde funciona, atualmente, a Secretaria de Esportes. O problema são as péssimas condições do lugar, com infiltrações, goteiras por todos os lados e muito mofo.

O Paraná Norte teve acesso a uma série de vídeos que mostram o descaso com a memória da cidade. Nas imagens, caixas e mais caixas com objetos históricos e documentos, entre eles fotos antigas, além de um grande mural de cerca de 2m², com a vista aérea de Arapongas, já completamente destruído pelo mofo. Os vídeos fazem parte da denúncia encaminhada ao MP.

                

Site da secretaria ignora fechamento

Apesar de o museu estar desativado desde o primeiro semestre de 2022, no site da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Eventos, responsável pela administração do prédio, ele ainda aparece como um dos espaços culturais da cidade em funcionamento e com “um público de 12.300 pessoas ao ano”. A página traz ainda informações sobre o acervo, a história do local, além de endereço, telefone para contato e horário de visitação (8h às 11h/13h às 17h).

“Está virando sucata”, diz conselheiro de Cultura

Integrante do Conselho Municipal de Cultura, Marcelo Emídio dos Santos, explica que recebeu a denúncia de um morador da cidade, em maio passado, e que na sequência foi à sede da Secretaria Municipal de Esportes, onde boa parte do material foi deixado, e gravou os vídeos. Ele diz que ficou impressionado com a situação do local e do acervo, amontoado em salas cheias de mofo, além de goteiras por todos os lados. E que, como conselheiro municipal de Cultura, decidiu denunciar o caso ao Ministério Público. “Chegamos e encontramos aquele cenário. Não pensava que estivesse naquela condição lamentável que se vê nas imagens. Na verdade, o acervo da forma que está hoje, 90% dele é só chamar a caçamba e levar. Está virando sucata”.

Acervo digital roubado

Para piorar a situação, meses antes da desativação do museu todo o acervo digital, resultado de seis anos de trabalho, foi perdido. O notebook onde estava armazenado o material, que incluía fotos e vídeos de pioneiros da região, entre outras memórias da cidade, foi roubado.

Marcelo Santos, do Conselho Municipal de Cultura, diz ainda que após a denúncia e a notificação da Prefeitura sobre a investigação do MP, parte do acervo foi retirada da Secretaria de Esportes e levada para a antiga sede do Instituto Brasileiro do Café (IBC). “Na semana passada, pegaram metade do material e levaram, do jeito que estava, para o IBC. São fotos históricas, havia um trabalho de resgate da história dos pioneiros, tinha vestimentas da época, mobiliário da época, a primeira mesa do primeiro prefeito. E muitas fotos antigas, da história da emancipação da cidade, então, tinha muita coisa. Tudo abandonado”.

Coordenador da ONG Arte & Vida, que há mais de 20 anos atende crianças e adolescentes de Arapongas com oficinas artísticas e esportivas gratuitas, em um espaço com mais de 600 m², o conselheiro municipal de Cultura lamenta a situação do acervo e pede um plano concreto para a reabertura do museu. A instituição tem ainda uma filial em Londrina, o Barracão Tangará, uma das “vilas culturais” mais atuantes e conhecidas da cidade. (M.G.)

Sem retorno da Prefeitura

O Paraná Norte fez contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Arapongas, para ter uma posição sobre a denúncia e a investigação do Ministério Público, além de uma manifestação sobre uma possível reabertura do museu, mas até o fechamento desta edição não tivemos retorno.

Por Marcos Garrido

Foto:Eduardo Fialho

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