Tradicionais ruas de comercio de Londrina encontram na união e no associativismo a oportunidade de solucionar alguns problemas antigos e tentar retomar os tempos áureos
Uma iniciativa que nasceu com a proposta de unir os empresários em torno de um objetivo comum: trazer melhorias para a região onde têm seus negócios e com isso atrair mais consumidores, aumentar as vendas e gerar mais empregos. A ideia começou a sair do papel em 2009, com a criação do primeiro Núcleo, o da mais antiga e tradicional rua de comércio de Londrina, a Sergipe. Para muitos, um dos patrimônios culturais da cidade.
Mas, essas melhorias só começaram a chegar quase uma década depois, em 2019, quando a Prefeitura promoveu uma revitalização que “mudou a cara” de boa parte da Sergipe, com a padronização de calçadas, a instalação de luminárias em LED e outros equipamentos públicos em 11 quadras. Além disso, era preciso cuidar da segurança para que a ideia avançasse e tivesse o sucesso desejado. Uma das novidades à época, em parceria com a Polícia Militar, foi a criação de grupos de whatsapp para facilitar o contato com os comerciantes e a comunicação mais rápida de alguma ocorrência.
E para atrair os consumidores, além das melhorias na rua e na segurança, era preciso também pensar estratégias que pudessem trazer de volta a clientela dos tempos áureos. Uma delas foi a criação do Dia da Sergipe, que chega à 13ª edição em 2024 e, como em todos os anos, traz uma série de serviços oferecidos por diferentes entidades e órgãos públicos, entre eles cuidados com a saúde, encaminhamento para vagas de emprego, além de recreação para as crianças e uma programação cultural recheada de shows e eventos culturais.
O Dia da Sergipe cresceu e, além da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), passou a contar com o apoio de empresários parceiros, Prefeitura, governo do Estado e instituições públicas e privadas, entre elas Sesc, Senac, Sebrae, Senai, Sesi e UEL (Universidade Estadual de Londrina).
União e persistência
A comerciante do ramo de maquiagem, bijuterias e acessórios e coordenadora do Núcleo Sergipe da Acil, Solange Ramalho, destaca a união e a persistência dos empresários para consolidar o grupo ao longo desses 15 anos. “No começo demorou um pouquinho, começamos fazendo visitas a outros lugares, para ver experiências que deram certo. Foi uma sementinha, que começou lá em 2009 e que, com o trabalho e as ideias de todos, começa a dar frutos. Essa união foi primordial para o projeto dar certo.”
Ramalho diz ainda que, passados cinco anos da revitalização, a principal demanda é a manutenção dos equipamentos públicos e de toda a rua. “Como empresário, a gente não consegue dar uma manutenção específica. Eu cuido da frente da minha loja, mas quando há vandalismo ou roubo, como no caso das lixeiras e floreiras, é preciso haver essa manutenção e reposição. A segurança também melhorou com os grupos de WhatsApp em parceria com a Polícia Militar.
Nossa Duque
A experiência da Rua Sergipe abriu portas, mas foram necessários mais de dez anos para que surgisse o segundo Núcleo, o da Duque de Caixas, também uma das avenidas mais antigas e importante da cidade, que concentra um grande número de empresas de todo tipo e que já não conseguia ter o mesmo apelo de antes para atrair a clientela. Entre os problemas, a segurança e a falta de estacionamento apareciam no topo da lista. O Nossa Duque foi criado em setembro de 2021 e poucos meses depois já começava a colher os primeiros frutos da união do empresariado.
Os comerciantes se mobilizaram, estabeleceram uma pauta de demandas para a avenida e o novo Núcleo conseguiu viabilizar com a Prefeitura, por exemplo, a troca do asfalto de boa parte da via e a implantação do estacionamento rotativo. Com as cobranças públicas, o grupo também articulou com a Polícia Militar um patrulhamento mais efetivo na região. Foi a partir desse Núcleo que a ideia “pegou” e começou a se espalhar pela cidade, avalia o comerciante Luiz Carlos Euzébio, coordenador do Programa Empreender da Acil e do Núcleo Nossa Duque.
Duplicação e revitalização
O comerciante Luiz Carlos Euzébio, coordenador do Núcleo Nossa Duque, acredita que a virada de chave entre os empresários para mudar o cenário da avenida foi a negativa do município em duplicar o trecho que ainda é de pista simples. Com a Prefeitura descartando o alargamento da via, eles partiram para uma solução mais simples. Apesar do pouco tempo de vida do Núcleo, Luiz Carlos Euzébio avalia que as mudanças viabilizadas pelo grupo são significativas e trouxeram a esperança de dias melhores.
“A grande questão que tínhamos era a tal duplicação, prevista há mais de 50 anos no Plano Diretor. Havia a expectativa de que ela pudesse chegar, mas nos disseram que nos próximos 50 anos não sairia do papel e passamos a buscar alternativas. Conseguimos a volta do estacionamento rotativo e a liberação da faixa exclusiva dos ônibus para os carros, no horário das 9h às 16h. A segurança, no geral, também melhorou muito, com um policiamento mais ativo e a instalação, pelos comerciantes, de novas câmeras de monitoramento. Ainda não temos data, mas nosso próximo passo é a revitalização da avenida.”
O coordenador do Núcleo Nossa Duque e do programa diz ainda que com o tempo os grupos de empresários acabaram se tornando uma grande rede de conexão. “Eles funcionam como um elo com a Prefeitura e uma coisa muito bacana que a gente vem notando é que os comerciantes foram se conhecendo, conversando e, em alguns casos, até ficando amigos.”
Núcleo Guaporé
O Núcleo da Guaporé foi outro que surgiu tendo como uma de suas principais pautas a segurança. Isso foi há pouco mais de dois anos, em março de 2022. Na região, que tem grande concentração de oficinas e revendas de peças automotivas, a maior queixa dos empresários eram os diversos imóveis abandonados, os chamados mocós, que acabavam concentrando usuários de drogas e gerando outros problemas, como os roubos a estabelecimentos e os furtos, principalmente de fios de cobre de operadoras de internet e telefonia. Por conta da insegurança, alguns acabaram optando em fechar as portas mais cedo.
As primeiras reuniões com a PM começaram a ocorrer poucas semanas após a criação do Núcleo. As queixas diminuíram, mas a tradicional rua do comércio londrinense ainda sente falta de uma revitalização.
Núcleo Calçadão
Lançado em agosto de 2022, o Núcleo Calçadão é mais um que surgiu em busca da soluções de alguns problemas e de melhorias para a única rua comercial de Londrina exclusiva para os pedestres. O projeto, inspirado na XV de Novembro, em Curitiba, nasceu em 1976, mas só começou a ser executado no ano seguinte, pelo arquiteto e ex-prefeito da capital Jaime Lerner, que também havia projetado a rua curitibana e foi contratado para dar vida ao Calçadão londrinense. A missão era ousada: tirar os carros, dar lugar aos pedestres e com isso humanizar a área, criando espaços de convivência.
Na década de 1980 vieram os anos de ouro do Calçadão. Mas, com a forte concorrência dos shoppings, no início dos anos 1990, a região passou por uma completa revitalização. Entre outros equipamentos, ganhou jardineiras, um coreto e novo calçamento.
Apesar de continuar exclusivo para pedestres, muita coisa mudou ao longo dos últimos anos. Entre uma crise econômica e outra e com o surgimento de novos bairros residenciais, como a Gleba Palhano, e de áreas comerciais importantes em outras regiões da cidade, o Calçadão perdeu clientes e moradores e viu muitas lojas fecharem as portas. Outro grande problema, durante anos, foi a concorrência dos ambulantes ilegais.
Com a criação do Núcleo, os empresários se uniram e decidiram ir à luta. Cobraram da Prefeitura mais rigor na fiscalização do comércio ambulante e depois de várias operações da CMTU e Guarda Municipal, a situação melhorou. Mas, para muitos, o Calçadão, apesar de ainda ser um lugar agradável para caminhar e fazer compras, já está merecendo uma nova repaginada.
Núcleo Novo Centro
Lançado no ano passado, o Núcleo Novo Centro já tem até projeto de revitalização de toda a região histórica de Londrina entregue ao prefeito Marcelo Belinati, após uma série de estudos e levantamentos.
Enfrentando, basicamente, os mesmos problemas do Calçadão, a proposta do Núcleo Novo Centro tem cinco pilares: habitação, patrimônio histórico, cultura, gastronomia e comércio. “Nosso objetivo é transformar o centro de Londrina em um marco de desenvolvimento urbano, a partir de estratégias e ações que devolvam seu protagonismo e sua atratividade econômica, social e cultural”, destacou durante a entrega do projeto, o diretor Institucional da Acil e coordenador do Núcleo, Gerson Guariente.
Entre as prioridades, a ocupação dos espaços e imóveis vazios, a partir de algumas estratégias e ações, entre elas mudanças na Lei de Uso e Ocupação do Solo, para incentivar novas construções na região; e no Código de Posturas, para permitir que prédios antigos de escritórios, depois de reformas e adaptações, possam se tornar, por exemplo, edifícios residenciais com unidades menores. Outra novidade do projeto de revitalização do Novo Centro é a criação de mecanismos de incentivo tributário para conseguir trazer de volta bares, restaurantes e outras empresas do setor de serviços.
Núcleo Saul Elkind
O último a se juntar ao grupo de seis Núcleos da Acil em atividade, há cerca de três meses, foi o da Saul Elkind, a principal via da zona norte. Apesar do pouco tempo de criação, já tem 20 integrantes ativos e as reuniões para definir as demandas mais urgentes ocorrem a cada 15 dias.
O empresário do setor calçadista Antônio Barbosa, que coordena o grupo, diz que os problemas variam a depender do trecho da avenida. Mas, assim como outras regiões da cidade que também criaram seus Núcleos, o trânsito e a falta de estacionamento estão entre as principais prioridades.
“Algumas ruas de Londrina não têm a metade do movimento que nós temos aqui na Saul e já contam com Zona Azul. Nós não temos. Essa é a nossa principal demanda atualmente. Porque o cidadão chega de manhã, deixa o carro na frente do comércio e só tira à tarde. E o cliente que quer estacionar para pagar uma conta ou fazer uma compra, acaba não encontrando vaga e vai para outro lugar.”
Outra proposta que também está nos planos dos empresários da região, explica o coordenador do Núcleo Saul Elkind, é organizar eventos que possam levar mais consumidores e movimentar a avenida, entre elas uma corrida de rua.
Por Marcos Garrido
Foto:Marcos Garrido
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