Motoristas de aplicativo ainda se queixam da falta de regulamentação, mas veem avanços na atividade; Londrina tem 7,5 mil profissionais
A ideia surgiu em 2009, mas a fundação oficial do Uber só ocorreu em junho do ano seguinte, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. Hoje, a plataforma está presente em mais de 10.500 cidades de 70 países e tem, aproximadamente, 6,5 milhões de motoristas e entregadores parceiros. No Brasil, a novidade chegou em maio de 2014, um pouco antes da Copa do Mundo realizada aqui no país.
Começou funcionando no Rio de Janeiro e logo depois chegou a São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Hoje, a Uber está em mais de 500 cidades do país, incluindo todas as capitais e principais regiões metropolitanas, e tem cerca de mil funcionários, além de mais de 1 milhão de motoristas. Em nenhum país, a plataforma tem tantos “parceiros”. Outro número que revela o tamanho do negócio da Uber no Brasil é que são mais de 30 milhões de passageiros cadastrados.
Pioneira mundial no setor, a trajetória da empresa no Brasil enfrentou um começo de resistência e restrições legais. Em São Paulo, por exemplo, o serviço chegou a ser proibido pelos vereadores e os primeiros motoristas receberam multas e tiveram carros apreendidos.
Quando chegou em Londrina, em 2016, a plataforma já tinha atingido a marca de 2 bilhões de viagens em todo o mundo. Apenas dois anos depois, em 2018, já eram mais de 10 bilhões. E em 2023, a gigante mundial do setor ultrapassou a impressionante marca de 44 bilhões de viagens no planeta.
O Uber se popularizou e apesar do surgimento de concorrentes de peso, ainda é a principal plataforma de transporte por automóveis nas capitais e nas maiores cidades do interior do país.
7,5 mil profissionais em Londrina
Em Londrina, afirma o presidente da Associação de Motoristas e Trabalhadores por Aplicativo, André Cicotosto, são atualmente cerca de 7.500 profissionais cadastrados e, apesar disso, ele diz que ainda falta união à categoria.
Cicotosto explica que quando o serviço chegou à cidade o cenário era outro, com a plataforma oferecendo uma série de atrativos para captar motoristas e clientes, entre eles corridas a preços bem mais em conta que os atuais.
O presidente da Associação conta ainda que o começo da plataforma em Londrina também foi de certa desconfiança, uma questão cultural ele acredita. “A gente que é do interior sempre foi doutrinado a não conversar com estranhos e coisas do gênero. Era tudo muito novo e algumas pessoas tinham receio. Mas, aos poucos, as coisas foram mudando e todo tipo de público passou a usar o aplicativo.”
Outra dificuldade da época, diz Cicotosto, foram os “atritos” com outra categoria, a dos taxistas. “Eles acreditavam que estávamos roubando o público deles. Mas, isso não é verdade. Até houve migração de clientela, mas a demanda dos táxis sempre existiu.”
PL para regulamentar atividade é retrocesso, diz associação
A chegada do Uber também trouxe mudanças nas relações de trabalho, com o avanço da informalidade e a consolidação do que viria a ser chamado de “uberização” do emprego. Em tempos de desemprego em alta, a novidade tornou-se uma alternativa de renda para muitos profissionais, qualificados ou não.
Os especialistas na área dizem que a ascensão do Uber também teve consequências para a segurança no trânsito. Entre eles, a falta de seguro para terceiros em caso de acidente e a ausência da chamada manutenção fiscalizada, que é exigida dos táxis, por exemplo.
Atualmente, segundo o presidente da Associação de Motoristas e Trabalhadores por Aplicativo, André Cicotosto, tramita no Congresso Nacional um Projeto de Lei para regulamentar a atividade, que, na avaliação dele, não atende à categoria.
“O PL do Executivo federal deve seguir para votação agora em junho, mas é um ‘Frankenstein’, mesmo com as emendas. Começou errado e nós estamos pressionando os deputados para que não aprovem esse projeto, que não beneficia os motoristas em nada e não nos representa, é um retrocesso.”
Táxi x Uber
Atualmente, segundo a Prefeitura de Londrina, a frota de táxis da cidade é composta por 388 veículos, 188 pertencentes à Associação Faixa vermelha, 122 da Faixa Azul e outros 78 carros que não fazem parte de nenhuma das duas.
Em 2021, diante da concorrência dos aplicativos, a Prefeitura enviou à Câmara um projeto de Lei para reduzir os custos da categoria. Aprovado no início de julho pela Casa, o PL foi sancionado pelo prefeito poucos dias depois.
NÚMEROS
388 táxis
É a frota do serviço circulando em Londrina
R$ 60,81
Valor da licença provisória de 90 dias para os taxistas trafegarem
Reduzir custos para sobreviver
Entre as mudanças legislativas para dar mais competitividade aos taxistas na cidade, a elevação da idade máxima para circulação do táxi, que passou de sete para dez anos, a autorização para uso de meios de pagamento eletrônico; além da redução e até extinção de taxas de serviço cobradas pela CMTU, como a de “substituição provisória do veículo” e a chamada “licença para trafegar”, que custam, respectivamente, R$ 243,29 e R$ 486,59. Em substituição a elas, foi criada a “licença provisória para trafegar”, que varia de R$ 20,27 para 30 dias a R$ 60,81 para 90 dias.
Apesar de muita gente acreditar que a quantidade de táxis na cidade diminuiu com a concorrência dos aplicativos, o secretário do Sindicato dos Taxistas de Londrina, Weygle Pereira, diz que o número segue o mesmo e que, para continuar na atividade, foi preciso se reinventar.
Ele afirma que, mesmo com a redução trazida pela Lei municipal, os custos da categoria ainda são altos e incluem o pagamento de impostos como ISS, a contribuição à Previdência Social e “a conferência dos taxímetros junto ao IPEM, que é anual, entre outras despesas.”
O secretário do Sindicato dos Taxistas explica que a chegada do Uber à cidade trouxe, sim, impactos para a categoria. “ No começo, a gente sentiu. Eles vieram com uma mídia muito forte, muita divulgação. Até o primeiro ano foi um sofrimento, porque tudo que é novo as pessoas usam, mas a coisa foi mudando já a partir do segundo ano.”
Weygle Pereira diz ainda que, apesar da forte concorrência, os taxistas passaram a entender que era preciso explorar as brechas do mercado. “Hoje, a categoria tem alguns nichos muito bem definidos, entre eles o transporte de executivos, cadeirantes, idosos e crianças e até a entrega de mercadorias para algumas empresas. As corridas para o aeroporto e rodoviária, em horários específicos da noite e da madrugada, também cresceram.”
“Nos supermercados, por exemplo, a maioria dos carros de Uber não gosta de atender os chamados. Sem falar nos cancelamentos, cada vez mais comuns nos aplicativos”, explica Weygle Pereira.
Concorrente Pé Vermelho
O App 43Mob começou a funcionar no último dia 14 de maio e está disponível para os celulares com sistemas Android e Iphone. Administrado pela Cooperativa dos Motoristas por Aplicativo de Londrina e região, o aplicativo pé vermelho nasceu com a proposta de remunerar melhor os motoristas e de trazer ganhos para a cidade.
“É uma vantagem, pois as grandes plataformas não conhecem a realidade de Londrina. Além disso, elas tiram da cidade em torno de R$ 4 milhões por mês e este recurso não fica em Londrina”, diz o presidente da empresa, João Batista. “Além disso, teremos alguns diferenciais, como as modalidades Pet, Crianças e Eventos”. Aproximadamente 700 motoristas já estão cadastrados no aplicativo.
De acordo com a 43Mob, enquanto outros aplicativos cobram até 30% dos valores recebidos pelos motoristas, o 43Mob é limitado a apenas 15%. O trabalhador cooperado também é dono do aplicativo e conta com assessoria jurídica, algo inédito no país, para o caso de um acidente ou qualquer tipo de problema com o passageiro.
MOB43
Aplicativo de transporte criado em Londrina já tem cerca de 700 motoristas cadastrados
Por Marcos Garrido
Foto:Marcos Garrido
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