Vice-prefeito deve disputar eleição municipal pelo partido de Bolsonaro contra secretário de Governo apoiado pelo chefe do Executivo; ex-prefeitos também podem concorrer
Nelson Bortolin
Especial para o Paraná Norte
As eleições para prefeito de Arapongas prometem emoções fortes devido ao rompimento político entre o atual prefeito Sérgio Onofre, do PSD, e o vice-prefeito, Jair Milani, do PL. Onofre foi reeleito em 2000 e, portanto, não pode concorrer na votação de 6 de outubro deste ano. Ele já lançou como pré-candidato o sobrinho Rafael Cita, que é secretário municipal de Governo e tem apoio do governador Ratinho Jr., de seu partido.
Milani, por sua vez, alega que o prefeito rompeu um compromisso. “A gente tinha combinado de fazer uma pesquisa em dezembro e quem estivesse em melhores condições, ou eu ou o sobrinho dele, iria ser o candidato”, afirma. Por isso, pretende se lançar como oposição.
Os partidos têm até 5 de agosto para definir seus candidatos em convenções (clique aqui e veja o calendário eleitoral de 2024).
Secretário de Obras até setembro do ano passado, ele afirma ter ficado surpreso quando, naquele mês, Onofre realizou uma solenidade com a presença do governador Ratinho Junior para filiar Cita ao PSD e anunciá-lo como pré-candidato. “O prefeito disse que o secretário que não fosse à solenidade teria de deixar a pasta. Eu falei que não iria e fui exonerado”, conta.
Milani deverá priorizar como trunfo na campanha o fato de ter estado à frente de mais de 130 obras realizadas, marca registrada da atual gestão, que também será explorada por Cita. “Sou agrimensor, entendo muito dessa área. As obras foram feitas pela minha equipe. E a administração se saiu muito bem nesse campo”, declara.
Aos 65 anos de idade, Milani espera contar com o apoio do seu correligionário, o ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem almoçou “há pouco tempo”. E também do deputado federal Filipe Barros, que é pré-candidato a prefeito de Londrina e figura próxima de Bolsonaro.
APOIO DO GOVERNADOR
Questionado se teme uma articulação política que una o governador Ratinho Junior e o bolsonarismo em torno da candidatura de Cita, ele responde: “Não acredito. Espero que não”. Apesar disso, se diz fã do governador, a quem considera um jovem com um “futuro brilhante pela frente”.
A reportagem questionou Milani sobre o que irá criticar na administração atual a qual pertence para justificar uma candidatura de oposição. “Acho que faltou fazer uma administração mais participativa com a comunidade. Precisamos ir aos bairros ouvir mais o povo”, explica.
Ele pretende investir em obras de reformas de prédios públicos, principalmente de escolas e creches. “Também queremos urbanizar melhor as avenidas, investir no nosso parque moveleiro, dar uma cara nova à cidade.”
Milani acredita que a polarização política na qual o País está mergulhado também vai pautar as eleições municipais. “A direita aqui é muito forte. Bolsonaro teve 72% dos votos. Temos um agronegócio que está sendo muito sacrificado (no governo Lula).”
O vice-prefeito fala em adotar na campanha o slogan do governo do ex-presidente: “Deus, pátria, família e liberdade”.
Candidato do prefeito se diz “pragmático”
Secretário de Governo de Arapongas e candidato do prefeito Sérgio Onofre (PSD) à sucessão na prefeitura, Rafael Cita (PSD) não aposta tanto na polarização política na disputa municipal. Perguntado se também se considera bolsonarista, como o vice-prefeito e provável adversário, Jair Milani (PL), ele responde que é “mais pragmático”. “Minha atuação é mais na linha do [governador] Ratinho. Foco mais na política de dados e resultados.”
Secretário de Governo de Arapongas, Rafael Cita, pré-candidato pelo PSD / Foto: Assessoria de Imprensa Prefeitura Municipal de Arapongas
Cita diz ter valores conservadores, mas não se considera de extrema direita. “Me alinho mais à política do PSD, de centro-direita.”
Ele afirma que a base do atual governo municipal conta com partidos de esquerda, como o PSB e PDT, e de direita, casos de PP e União Brasil. E não acredita no envolvimento pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa local.
Aos 36 anos, o secretário vai disputar uma eleição pela primeira vez. “Dentro do grupo da atual administração foi analisada a escolha do possível sucessor. O prefeito, junto com outras lideranças, entendeu que meu nome seria mais adequado”, conta.
Advogado de formação, ele ocupou a Procuradoria do Município até o anúncio de sua pré-candidatura. “O prefeito achou por bem me levar para a Secretaria de Governo para ter uma atuação mais ampla da política”, admite.
Sobre o fato de ser sobrinho do prefeito, Cita conta: “No discurso da minha filiação ao PSD disse que ser sobrinho dele pode ter pesado na escolha, mas não sou apenas sobrinho. Sou advogado desde os 22 anos. Fui assessor de juiz, de promotor, procurador-geral do Município.”
DESAFIOS
Ele considera como um dos desafios da próxima gestão a manutenção de obras recentemente realizadas. “O prefeito atual foi o que mais fez obras na história. Muitas serão entregues neste ano. O início da próxima gestão tem de focar na manutenção delas.”
O pré-candidato também afirma que Arapongas tem alguns gargalos que precisam ser resolvidos. “Tenho algumas propostas para o trânsito do município. Proporcionalmente, Arapongas tem uma das maiores frotas do Estado.” A gratuidade do transporte público é uma das propostas apresentadas por ele.
Apesar de a cidade ter uma boa estrutura de saúde, na visão do secretário, há deficiências relacionadas a consultas com especialistas e cirurgias eletivas. “São questões mais de responsabilidade do governo do Estado, mas pretendemos enfrentar.” (N.B.)
Bisca: ‘estou liberado para disputar’
Outro nome que vem sendo ventilado como pré-candidato em Arapongas é do ex-prefeito José Aparecido Bisca. Filiado ao PSDB, ele está de saída do partido e diz ter recebido convite de duas ou três legendas interessadas na filiação dele. Mas, não revela quais.
A definição da candidatura de Bisca fica para depois do Carnaval. E ele admite que pode compor com o candidato da atual administração, Rafael Cita (PSD). “Tem muita discussão acontecendo. Estou liberado para disputar”, garante o político que ficou inelegível devido a ações de improbidade pelas quais respondeu. Os processos são referentes a fatos ocorridos no período em que foi prefeito da cidade, de 1997 a 2004.
Aos 72 anos, diz que vê a política como “prestação de serviços para a comunidade”. Ele considera que a gestão do atual prefeito Sérgio Onofre (PSD) é boa no que diz respeito a obras de infraestrutura, mas deixa a desejar na área social.
Embora afirme ter feito 240 obras durante seus mandatos, alega que gosta mesmo é de “ajudar o povo”. “As pessoas da classe A e B não precisam de ajuda, mas os pobres não têm como sair da pobreza se não forem ajudados”, alega.
Bisca diz ter construído 1.200 casas populares durante seus mandatos, por meio do projeto Terreno Urbanizado. “Doávamos terrenos para as companhias que faziam moradias a preços irrisórios”, alega. A atual administração, na visão dele, fez “algumas moradias”, mas a preços pouco acessíveis.
Sobre Cita, Bisca diz tratar-se de um “bom menino”. “Ele me procurou para conversamos.”
TRIPREFEITO
Nos bastidores políticos, há quem aposte numa candidatura de outro ex-prefeito, Waldyr Pugliesi, 88 anos. À reportagem, ele confirmou que seu nome vem sendo ventilado, mas preferiu não se pronunciar sobre esta possibilidade. Apesar disso, ressaltou seu currículo. “Fui meia dúzia de vezes deputado federal, fui secretário de Transporte do Paraná, diretor do Porto de Paranaguá, três vezes prefeito. E comemorei o campeonato do Palmeiras”, brincou.
Presidente do PT de Arapongas, professor Vidal afirma que o partido terá candidatura própria que ainda não foi definida.
Votação será dia 6 de outubro
As eleições municipais de 2024 serão realizadas no dia 6 de outubro. Para as cidades com mais de 200 mil habitantes, eventual segundo turno está marcado para 27 de outubro. Alguns prazos referentes às eleições deste ano, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já começaram a valer na virada do ano.
Desde o dia 1º de janeiro, todas as entidades ou empresas que realizarem pesquisas de opinião pública sobre intenção de voto devem fazer o registro prévio do levantamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Entre 7 de março e 5 de abril, ocorre a janela partidária, período em que vereadoras e vereadores poderão trocar de partido para concorrer às eleições sem perder o mandato.
Dia 6 de abril, é o prazo final para que todas as candidatas e todos os candidatos tenham domicílio eleitoral na cidade em que desejam disputar as eleições e estarem com a filiação deferida pelo partido pela qual pretendem concorrer.
Jovens que precisam tirar o título ou eleitoras e eleitores que desejam fazer a transferência de domicílio eleitoral ou alterar o local de votação têm até 8 de maio de 2024.
Em 15 de maio, pré-candidatas e pré-candidatos poderão iniciar a campanha de arrecadação prévia de recursos na modalidade de financiamento coletivo, desde que não façam pedidos de voto.
Entre 20 de julho e 5 de agosto, é permitida a realização de convenções partidárias para deliberar sobre coligações e escolher candidatas e candidatos às prefeituras, bem como ao cargo de vereador.
Definidas as candidaturas, as agremiações têm até 15 de agosto para registrar os nomes na Justiça Eleitoral.
A propaganda eleitoral só é autorizada a partir de 16 de agosto.
A propaganda gratuita no rádio e na TV é exibida nos 35 dias anteriores à antevéspera do primeiro turno. Dessa forma, a exibição deverá começar em 30 de agosto e se encerrará em 3 de outubro, uma quinta-feira. (N.B., com informações do TSE)
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